Taxa de câmbio real e desenvolvimento econômico

Não consigo imaginar paí­s em desenvolvimento que consiga decolar e sustentar o crescimento econômico com a taxa de câmbio sujeita a períodos longos de sobrevalorização da moeda nacional. Bresser está certíssimo com sua tese obsessiva de que a taxa de câmbio deve se manter em torno de seu nÍvel competitivo (ligeiramente subvalorizado). O gráfico no final desta postagem, retirado do site do Banco Central do Brasil, contém os índices das taxas de câmbio reais (Real-dólar; IPCA como deflator; junho 1994 =100), e mostra que estamos replicando essa tendência de apreciação da moeda brasileira em termos reais desde os anos 1990. No governo Lula, o Real chegou a ficar 40% sobrevalorizado em relação ao dólar! Que indústria aguenta isso? A expansão do consumo vaza para o exterior via aumento desenfreado das importações; os melhores empregos são "exportados" para o resto do mundo. O Real só deprecia violentamente após choques (crises) domésticos ou externos. O choque de agora é violento e só mostra que a moeda brasileira tem sido feita de gato e sapato pelos especuladores internacionais: virou commodity, isto é, quando vem a bonança, excesso de capitais especulativos invadem o país, entram "vendidos" em dólar, fazem carry-trade, ganham os tubos, fodem a indústria. Já quando vem um choque e, como em geral commodity vale nada, saem em fuga, ficam "comprados" em dólar, e a moeda deprecia abrupta e violentamente. Essa mega depreciação atual (overshooting) tampouco é boa, ainda mais quando vem em momento dramático como agora. O pior é que esse filme tem se repetido: como o regime macroeconômico do paí­s ainda é o mesmo desde 1999 (o famigerado tripé macroeconômico), já antevejo que, quando a economia engatar alguma recuperação (quando será???), o Real voltará à  trajetória de apreciação, o que significará, provavelmente, crescimento econômico não sustentável, em stop and go. Como diz a música de Lobão, "quem é que vai pagar por isso?".